Mudanças entre as edições de "Enciclopedismo"
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Hipertexto. Neste século XXI, a internet e o hipertexto são os representantes atuais do projeto enciclopedista. Sendo o hipertexto considerado o recurso mais avançado para promover o ideal enciclopédico. | Hipertexto. Neste século XXI, a internet e o hipertexto são os representantes atuais do projeto enciclopedista. Sendo o hipertexto considerado o recurso mais avançado para promover o ideal enciclopédico. | ||
− | Digital. Um exemplo marcante para avaliar o impacto da era das enciclopédias é a Wikipedia uma enciclopédia digital. Trata-se de um projeto de cooperação intelectual através de ''groupware'' dedicado a produção e revisão de artigos. Para entender a dimensão do projeto a Enciclopédia Britânica possui mais 100.000 verbetes e a Wikipedia já está com mais de 673.000 artigos. São cerca de 600 artigos por dia. (V. Benatti, Luciana; Eu vou de Wikipedia! Info exame; revista; ano 19; no. 225; Dezembro/2004). | + | Digital. Um exemplo marcante para avaliar o impacto da era das enciclopédias é a Wikipedia uma enciclopédia digital. Trata-se de um projeto de cooperação intelectual através de ''groupware'' dedicado a produção e revisão de artigos. Para entender a dimensão do projeto a Enciclopédia Britânica possui mais 100.000 verbetes e a Wikipedia já está com mais de 673.000 artigos. São cerca de 600 artigos por dia. (V. '''Benatti,''' Luciana; '''''Eu vou de Wikipedia!;''''' Info exame; revista; ano 19; no. 225; Dezembro/2004). |
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Edição das 02h58min de 8 de agosto de 2005
Definição. Enciclopedismo é a tendência ao acúmulo exaustivo, sistemático e detalhista de conhecimentos nos diversos ramos do saber, visando catalisar o discernimento progressivo sobre a realidade.
Sinonímia. 1. Eruditismo; cultismo; generalismo. 2. Polimatia; multidisciplinaridade; interdisciplinaridade; transdisciplinaridade. 3. Megacompilação racional do conhecimento; megagestação consciencial. 4. Pansofia; sabedoria universal; tudologia. 5. Maxiproéxis intelectual grupal.
Antonímia. 1. Ignorantismo; incultismo; especialismo hemiplégico. 2. Monomatia; monodisciplinaridade. 3. Compilações mutiladoras do conhecimento. 4. Conhecimento popular, niilismo cognitivo, mateologia. 5. Miniproéxis egocármica.
Consciência. Pela Conscienciologia, a natureza ou essência da consciência é o conhecimento progressivo da realidade, de maneira a refletir cada vez mais o macrocosmo no microcosmo. O Enciclopedismo conscienciológico evidencia o valor da abordagem enciclopédica para a evolução consciencial.
Articulação. Analisando o enciclopedismo à luz do paradigma consciencial, percebe-se a articulação de 3 elementos quanto à realidade:
- Realidade multidimensional extraconsciencial;
- Registro enciclopédico do entendimento sobre a realidade;
- Representações imagísticas intraconscienciais da realidade.
Objetivo. O propósito da enciclopédia é reduzir a inacessibilidade ao conhecimento. Esta inacessibilidade pode ser devido à extensão ou desorganização dos textos, a raridade das cópias, a barreiras lingüísticas ou terminologia especialista. A enciclopédia é um livro sobre o cosmos catalisando a cosmovisão e universalismo das consciências.
Encyclopedicus. A conscin da macropensenidade (pensenizar grande) dedicada ao estudo e produção de obras enciclopédicas é o Homo sapiens encyclopedicus.
Alternância. Segundo a Parafisiologia, o ato de conhecer está baseado na alternância de movimento expansivo de contato com realidade com movimento introspectivo de reflexão da experiência. Conhecer é organizar intraconsciencialmente as experiências e percepções. O enciclopedis¬mo reflete um nível maior de organização do conhecimento tanto intraconsciencial quanto nos registros.
Epistemologia. Tudo sobre a realidade pode ser conhecido. Os limites do conhecimento são ilusórios e dependem da capacidade definitória da consciência, evidenciada pela extensão do léxico cerebral e paracerebral. A frase "o conhecimento não ocupa espaço" decorre da percepção intuitiva da ausência de limites do conhecimento. Quem vivencia o enciclopedismo percebe a possibilidade de saber cada vez mais sobre tudo, base da curiosidade epistemológica sadia e automotivação para o estudo ou autodidatismo.
Enciclopedismo na História Humana
Projeto. Desde a antiguidade existe o projeto enciclopedista para reunir numa única obra todo o patrimônio cultural da humanidade. Neste texto estarão indicados alguns dos principais esforços humanos para realizar este projeto. Segundo os estudiosos do Enciclopedismo, o projeto enciclopedista parece acompanhar todas as civilizações da escrita a partir de um determinado momento histórico (V. Pombo, Olga; em http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/ency.htm ).
Modalidades. Analisando as produções enciclopédicas é possível classificá-las em três modalidades:
- Enciclopédia geral. Coletânia exaustiva de todos os conhecimentos de uma época.
- Enciclopédia especializada. É o tratamento enciclopédico de uma determinada área do conhecimento.
- Enciclopédia filosófica. Pretende criar as bases para o conhecimento racional da totalidade do real.
Grécia. Na Antigüidade, os gregos podem ser considerados como os primeiros enciclopedistas com a obra de caráter multiforme de Aristóteles e o trabalho de Speusippus (393-339 a.c.) sucessor de Platão responsável pela compilação do conteúdo das aulas da Academia.
Varrão. Marcus Terentius Varro (116-27 a.c.) é considerado um enciclopedista da antigüidade devido sua obra com mais de 600 volumes sobre praticamente todos os campos do conhecimento. Foi um polímata e considerado o mais instruído de todos os romanos.
Plínio. A grande enciclopédia do mundo antigo é a Historia Naturalis de Plínio (23-79 d.c.). Esta obra serviu de base para o enciclopedismo medieval. No prefácio o autor afirma reunir cerca de 20.000 fatos retirados de observações diretas ou de 500 autores consultados, dos quais 146 latinos e 327 não-latinos. (v. http://en.wikipedia.org/wiki/Naturalis_Historia ).
Religião. Na baixa Idade Média, o enciclopedismo serviu aos interesses da religião católica e do programa agostiniano de purificação das almas pelo exercício da inteligência. St. Agostinho apontou a necessidade de reunir numa só obra todos os conhecimentos necessários à interpretação e ensino dos textos sagrados. Cassiodorus (490-580) foi o primeiro a corresponder ao apelo de St. Agostinho e escreve Instituitiones divinarum et saecularum litterarum e De artibus ac disciplinis liberalium litterarum, verdadeiros manuais da formação intelectual monástica.
Etimologia. St. Isidoro (560-636), bispo de Sevilha, escreveu uma obra de 20 volumes com muitas etimologias, sendo considerada a primeira grande enciclopédia cristã. Esta obra mantém-se dentro da linha de enciclopedismo exegético proposto por St. Agostinho.
Especular. Na alta Idade Média, o enciclopedismo se liberta da necessidade de conservação do mundo antigo e se abre para os novos conhecimentos relacionados com o movimento renascentista e surgimento das universidades. Um dos traços mais característicos do enciclopedismo medieval tardio é busca de uma correspondência especular entre o conteúdo da enciclopédia e a ordem do mundo. Os títulos das obras da época refletem este traço: De Imagine mundi de Honorius d'Autan; Image du monde de Gossuin de Metz e Speculum Majus de Vincent de Beauvais (1190-1264), este último considerado um dos maiores enciclopedistas da Idade Média (V. http://en.wikipedia.org/wiki/Vincent_de_Beauvais).
Colaboração. Assim como o enciclopedismo antigo, a enciclopédia medieval é de autoria individual, embora os seus autores passem a contar, com grande freqüência, da colaboração de compiladores e escribas.
China. Devido à tendência do pensamento chinês a sempre buscar a estabilidade do conhecimento tradicionalmente fundado, a China teve dificuldades com o projeto enciclopedista. Seguem 2 exemplos de Enciclopédias chinesas:
- Yung-loh Ta Tien, mandada coligir pelo imperador Yung-Lo (1403-1425), obra em 11.995 volumes e 22.937 capítulos, cuja redação se teria iniciado em 1408 e que, dada a sua dimensão, nunca chegou a ser impressa.
- T'u shu chi ch'êng, em 5.020 volumes e cerca de 10.000 capítulos, mandada compilar pelos imperadores K'ang-hi (1661-1721) e Yung-ch'eng (1721-1725), publicada em Xangai em 1726. Existe um exemplar completo no Museu Britânico.
Renascimento. Diferente do enciclopedismo medieval onde o conhecimento do mundo dependia sempre da presença de Deus como causa de tudo e objetivo maior, o enciclopedismo renascentista registra o conhecimento do Mundo do Homem.
Périplo. Na época em que Marco Pólo faz suas viagens para o oriente, Cristóvão Colombo chega à América, e Vasco da Gama à Índia, o homem do renascimento quer fazer o périplo do conhecimento de maneira mais ampla e abarcar o conhecimento desse novo mundo. É nesse momento que surge o resgate da etimologia do vocábulo enciclopédia e é introduzido por Rabelais na sua famosa carta de Gargantua ao seu filho Pantagruel.
Organização. O maior trafar nas enciclopédias renascentistas é a falta de organização da abundante quantidade de informação e conhecimentos.
Programa. Juan Luis Vives (1492-1540) escreveu De Tradendis disciplinis (1531) sendo considerado o maior expoente do enciclopedismo renascentista. Considerou sua obra enquanto objeto de ensino fazendo parte de um programa de estudos.
Esquemas. Somente no século XVII é possível utilizar o conceito de enciclopédia com sentido mais preciso, pois devido os progressos do conhecimento, novas condições sistemáticas, epistemológicas e metodológicas capacitaram os enciclopedistas da época manejar esquemas mais sofisticados de inteligibilidade. Estes esquemas permitiram um sentimento de capacidade de continência da totalidade do saber. Surgiram várias tentativas de taxologia do conhecimento.
Lull. Ramón Lull é importante representante do enciclopedismo filosófico ao apresentar o processo combinatório das enciclopédias e as árvores das ciências enquanto esforços para a síntese do conhecimento humano. Lull procurava uma ciência das ciências. Influenciou Giordano Bruno e Leibniz.
Bacon. A importância de Francis Bacon (1561-1626) para o enciclopedismo deve-se a dois fatos: primeiro foi sua classificação das ciências, considerada uma das mais influentes da história, e em segundo lugar devido seu projeto enciclopédico, Instauratio Magna (1620) o qual se propunha a fazer a reconstrução das ciências, das artes e de todo o conhecimento humano a partir de seus verdadeiros fundamentos, permitindo o progresso das ciências e suas aplicações práticas visando o bem-estar da humanidade. Bacon também é considerado representante do enciclopedismo filosófico.
Pansofismo. O enciclopedismo pansofista foi proposto por Comênio (Jan Amos Komensky, 1592-1670), através da idéia pansófica sobre a existência de uma harmonia fundamental na criação divina com origem e finalidade comum de todos os seres. Decorre disso o irenismo marcante na atividade enciclopedista e pedagógica de Comênio, também considerado enciclopedista filosófico.
Leibniz. O projeto enciclopedista de Leibniz (Gottfried Wilhelm Leibniz, 1646-1716) combina as três influências filosóficas de Lull, Comênio e Bacon. Duas características marcantes são: primeiro a pretenção de reduzir todos os conhecimentos a um pequeno número de princípios ou categories de aplicabilidade universal capazes de gerar mediante combinações todas as relações possíveis entre 2 conceitos; em segundo uma combinatória heurística para gerar novos conhecimentos. Outro esforço enciclopédico de Leibniz foi procurar organizar os pesquisadores em sociedades e academias científicas, pois segundo ele, somente uma “societé savant” poderia produzir uma enciclopédia.
Barroco. Tanto o enciclopedismo renascentista devido o excesso de material quanto o enciclopedismo seiscentista das múltiplas classificações do saber são considerados enciclope-dismos barrocos em função do excesso de informação sem esquema de organização definido.
Ouro. O Século XVIII é considerado o século de ouro do enciclopedismo, devido principalmente ao amadurecimento da ciência que atingiu sua forma clássica. A enciclopédia era para os homens do século XVIII o que a catedral representava para os homens da idade média. Um monumento no qual o homem se revê naquilo considerado o mais importante não mais na sua ligação religiosa com Deus criador, mas na sua relação científica com o mundo criado.
Idiomas. A enciclopédia do século XVIII abandona o latim e passa adotar os idiomas nacionais acompanhando a constituição dos estados modernos.
Ordem. O fato decisivo na mudança do enciclopedismo do século XVIII foi a utilização da ordem alfabética dos verbetes, abandonando as organizações disciplinares e facilitando o acesso.
Referência. A Cyclopaedia or an General Dictionary of Arts and Sciences publicada em 1728 por Ephraim Chambers (1680-1740) utilizando a ordenação alfabética conseguiu a unidade da obra pela apresentação inicial da sistematização dos saberes e pela introdução original da técnica de ampla rede de referência interna para articular os verbetes. Ambas soluções serviram de base para a Encyclopédie.
Coletiva. A Encyclopédie ou diccionaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, par une société de gens de lettres, mis en ordre et publiée par M. Diderot, de l'Académie Royale des Sciences et Belles-Lettres de Prusse, et quant à la partie mathématique par M. D'Alembert, de l'Académie Royale des Sciences de Paris, de celle de Prusse et de la Société Royale de Londres (1751-1765) chamada, simplificadamente, de Encyclopédie é uma obra coletiva elaborada por vários homens de cultura (“societé de gens de letters”) ou república de colaboradores articulados por Diderot e D’Alembert, considerada o maior marco do enciclopedismo.
Megafraternidade. O trabalho na Encyclopedie pode ser considerado um exemplo de megafraternidade. Um grupo de homens separados, muitas vezes sem se conhecer, ligados entre si pelo objetivo de produção da obra comum. É um momento singular da história da cultura no qual um grupo de intelectuais vence seus interesses particulares, une seus esforços e generosamente põe seus talentos a serviço da perfeição da obra e da felicidade da humanidade.
Esclarecimento. No momento de consolidação da unidade das ciências, surge a figura do enciclopedista-filósofo (amigo do saber) procurando articular as descobertas científicas e divulgá-las para que mais homens fiquem esclarecidos e participem da luz de seu século.
Editor. A Encyclopédie com o trabalho de seus editores Diderot e D’Alembert definiu o importante papel do editor na produção das enciclopédias, selecionando e coordenando os diversos colaboradores.
Contra-poder. Diderot afirmou que a enciclopédia só poderia ocorrer como trabalho independente em relação aos poderes instituídos. A Encyclopédie foi obra de um grupo de intelectuais do contra-poder, pesquisadores independentes, pois estavam à margem dos poderes estabelecidos, fora das universidades, raramente nas academias. Esse foi um momento raro na história científica, pois logo o governo assumiu o controle da produção científica e continua até hoje. O univeraslismo sempre sai prejudicado quando poderes temporais dominam a ciência.
Dicionário. O século XIX foi considerado por Pierre Larousse como o “século dos dicionários”. Foram editadas inúmeras enciclopédias em vários países.
França. Foram publicadas entre outras as seguintes obras: a Encyclopédie Moderne (1824-1832) de M. Courtin, em 24 volumes, o Grand Dictionnaire Universel du XIX` Siècle (1866-1890) de Pierre Larousse, em 15 volumes, e a La Grande Encyclopédie, inventaire raisonné des sciences, des lettres et des arts (1886-1903), em 31 volumes, dirigida por André Berthelot e Ferdinand-Camile Dreyfus.
Inglaterra. O fato mais importante do enciclopedismo na Inglaterra do século XIX foi a publicação da Encyclopaedia Britannica (1768-1771) que adotou um modelo de organização disciplinar conjugado com ordenação alfabética. Alemanha. São publicadas as seguintes obras enciclopédicas: Konversations-Lexicon (1796-1811) de Brockhaus, a Grosses Conversations-Lexicon (1840-1855) de Joseph Meyer e a colossal Allgemeine Encyclopädie der Wissenschaften und Künste (1818-1889), em 167 volumes, organizada por J.S. Ersch e J. G. Gruber.
Itália. Destacam-se o Dizionario enciclopedico delle scienze, lettere e arti de Antonio Barazzarini (1830-1837) em 9 volumes e a Nuova enciclopedia popolare cuja 1ª edição foi publicada em 1841 sob a orientação de G. De Marchi e F. Predari.
Nacionalismo. No século XX, essa tendência dos países querem ter uma grande enciclopédia em seu idioma gera um nacionalismo conflitante com o internacionalismo do projeto enciclopedista.
Incompletude. Desde o enciclopedismo medieval, os enciclopedistas tomaram consciência da natureza incompleta ou inacabada da enciclopédia devido o crescimento exponencial do conhecimento.
Síntese. Devido o estatuto do inacabamento o projeto enciclopedista da modernidade ao invés de conter a totalidade do conhecimento direcionou-se para promover uma síntese ou coletânia do conhecimento essencial de cada ciência.
Acelerador. A enciclopédia funciona como acelerador do conhecimento.
Era. Com a expansão do conhecimento humano e das tecnologias de investigação científica aliado aos recursos da informática estamos vivendo numa era das enciclopédias.
Hipertexto. Neste século XXI, a internet e o hipertexto são os representantes atuais do projeto enciclopedista. Sendo o hipertexto considerado o recurso mais avançado para promover o ideal enciclopédico.
Digital. Um exemplo marcante para avaliar o impacto da era das enciclopédias é a Wikipedia uma enciclopédia digital. Trata-se de um projeto de cooperação intelectual através de groupware dedicado a produção e revisão de artigos. Para entender a dimensão do projeto a Enciclopédia Britânica possui mais 100.000 verbetes e a Wikipedia já está com mais de 673.000 artigos. São cerca de 600 artigos por dia. (V. Benatti, Luciana; Eu vou de Wikipedia!; Info exame; revista; ano 19; no. 225; Dezembro/2004).
Analogonímia
Abordagem evoluciológica; amplitude cognitiva; aprofundamento; cosmovisão; cultura geral; expansão ideativa; generalismo; multiculturalismo; universalidade; visão de conjunto; resumo do universo.